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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O REMISSO “A esmola quando é demais o Santo desconfia...” (ditado popular)" Um dia surgiu a Avenida. Já existia, mas agora se tornara a AVENIDA... Iluminação a mercúrio. Uma beleza. Mas iluminada demais para meu gosto, ressaltava a feiúra das malocas. Era preciso removê-las e rapidamente. Os caminhões surgiram derrepente. Ninguém sabia o que era a tal Restinga, para onde iriam todos compulsoriamente (de qualquer maneira)... Estávamos aborrecidos com tudo aquilo, alguns, um pouco esperançosos diante de várias promessas, lá foram eles... Quilômetros e quilômetros de estrada de chão batido e ao final o deserto... um fim de mundo (Produção da periferia – Nola Gamalho.) A Restinga estava sendo implantada e continua sendo, sem o mínimo conhecimento e informação aos seus futuros moradores para o gosto dos homens públicos da época ditatorial. Estes acham que removendo os trabalhadores com seus casebres mal construídos, pertences, cachorros etc, estariam se livrando dos indesejados, porque eram pobres, sem boas maneiras, sem consciência do seu papel de cidadãos. Até porque isto não interessava muito “naquelas alturas do campeonato”, o que queriam na verdade era se livrar “daquela gente toda” dos indesejados. Assim pensavam que mantendo isolados e afastados dos centros urbanos estariam livres “desta maloqueirada”(sic) e seus vários “pobremas”(sic) e não mais teriam a convivência dos mesmos. A política da época era “ressocializar”-na verdade tinham outro nome, com os argumentos que usavam para convencer criaturas que deveriam aprender a ser gente novamente, assim formaram um grande campo de concentração na Restinga para serem reeducados novamente para serem pretendente de algum favor feito por algum graduado da época da remoções em massa do povo humilde e que nos dias atuais não é muito diferente. Ledo engano dos que imaginavam que o “povão” iria aquieta-se longe do burburinho do centro da cidade, pois diversos trabalhadores se organizaram para reivindicar melhorias básicas para todos. Estes lutadores realizam pequenos serviços de manutenção nas moradias dos abastados.(ricos) levamos anos e anos a fio para conseguirem algum direito fosse atendido e ainda hoje pelejamos muito para conquistarmos direitos que ainda não foram garantidos. Eram eles que realizam tarefas penosas, de muito sacrifício e esforço físico ou será que teríamos alguém na classe média: -juiz, médico, promotor, prefeito, vereador empresários, realizando serviços de manutenção (escavando buraco, cortando lenha, conserto de chuveiros, tomadas elétricas, etc). É obvio que não...é bem capaz que os queridinhos sujariam suas mãos para tão ingrata tarefa, pois o seu pró-labore advém da remuneração que muitos trabalhadores levariam décadas para receber nos seus míseros salários. A nossa sociedade é desigual em quase todos os sentidos; explorados e exploradores... Se alguém está rico, é porque alguém ficou mais pobre do que já estava...Como escreveu um antigo escritor português ( ~1865 – Antonio Aleixo: SE ALGUÉM COME O PÃO QUE TEM , NÃO COME O PÃO DE NINGUÉM, MAS QUEM COME ALÉM DO QUE TEM COME O PÃO DE ALGUÉM). Dificilmente teremos alguém das camadas populares sendo coptado para a classe mais privilegiada, mas os pouquíssimos que tiverem conseguido elevar-se na condição social com seu próprio suor, após muitos anos de labuta humana para ser feliz; mas desta pequeníssima minoria com esta ascensão social não trouxeram retorno para que se colocasse ao lado das reivindicações e lutas dos seus antigos iguais, e assim sendo teriam outro status social, sobretudo haviam adquirido a febre do individualismo dos privilegiado mundo dos espertos! E como já trazido acima nesse escrito:“Se alguém ganha financeiramente; alguém perde, ou fica parada na mesma situação, ou regride nas aspirações de vida digna!” Os removidos, dá maneira como tudo aconteceu na época, fomos depositados em lugar desconhecido por todos, sem regras de convivência, sem qualquer estrutura mínima do conviver. E ao compararmos a educação ao longo de décadas, continua valendo o velho chavão: - devemos prepará-los para o mercado de trabalho -, também, veladamente chamado de mercantilismo e nunca para serem cidadãos de fato e de direito. Se não vejamos as condições dos educadores: professores - pais - sociedade. Os primeiros não têm salários condizentes com a função que exercem; as péssimas condições de retaguarda para os mesmos lidarem com as mais diferentes situações sociais de atuação junto a gurizada; e muitos não compreendem, ou não querem compreender de como lidar com as diferentes realidades sociais e culturais de um estado de direitos destes sujeitos mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições dignas de existência dos pupilos. Acabam afunilando as sua reivindicações na questão meramente econômica. Os segundos querem a qualquer preço um lugar para deixar os filhos para poderem trabalhar ou “bater pernas”(sic) sem compromisso todo tempo livre que desfrutam, não importando a qualidade e acompanhamento na educação dos filhos, o seu crescimento harmonioso para que concretizarem sua autonomia na juventude e vida adulta. Há muitos pais que não importa o que os filhos façam no ambiente escolar e fora dele; não levam em conta um ambiente de participação e aprendizado para cidadania, pois insistem em não permitir que o alunado realize oficinas de aprendizados construtivos nas mais diferentes áreas sociais e da experimentação coletiva em suas vidas. Ou não tem oportunidade a suas crianças e adolescentes para exercerem o referido aprendizado importante para a vida adulta. Os terceiros são de uma sociedade para adultos, individualista, discriminatória, e não recebem incentivos para compartilhar experiências bem sucedidas, de modo a estar presentes na proposição e execução de fundamentos de formação do caráter em desenvolvimento dos infantes abandonados a sua própria sorte. De qualquer modo, ficamos a mercê dos políticos corruptos que auxiliados por indivíduos peçonhentos da comunidade que privilegiam somente questões pessoais em detrimento das construções coletivas do bem comum. Deste jeito, estamos revivendo as várias formas de remoções da década de sessenta, que trouxeram para cá indivíduos despreparados, sem qualquer orientação para ocupar seus espaços de moradias e trazidos de qualquer modo em sua instalação. E com o forte propósito discriminatório em remove-los para uma terra bem distante do centro da cidade, para não serem enxergados por muito tempo e aqui sobreviverem, sem emprego, sem salário, sem as mínimas condições básicas de urbanidade, e por serem negros, pobres, pedintes, incomodavam as classes abastadas nos logradouros públicos com sua dança, religião, diversão, alegria e aqui nestas terras longínquas foram largados como algo deixado ao relento. Desprezados! Como se pode ver, educar é envolver mais pessoas para transformar a realidade em algo palpável que podemos enxergá-los claramente. A educação não se resume em acumular conhecimentos. É dar as criaturas deste mundo o poder de transformar a própria vida e modificar a realidade ao seu redor. É deixa-los serem tocados e sensibilizados com algo que reconheçam como necessário para sua vida. Como escreveu CAMARGO, José C. – “Nada mais propicio ao oportunista e mau-caráter do que uma geração despolitizada” que se aproveita desta debilidade humana estando sempre a espreita e de prontidão para tirar proveito da situação. Assim, há muito por fazer na comunidade, carregamos a herança da remoção, exclusão em nossas entranhas viscerais de maneira velada, a comunidade possui atualmente dezoito escolas, em vias da décima nona escola, descomprometidas no seu conjunto; que em sua maioria conquistadas com nosso esforço em favor da coletividade da comunidade, mas ainda não conseguimos destacar um NORTE para ações de promoção das relações que corroborem a algum desenvolvimento que minore a falta de emprego, com menos exclusão social, com menos desuso dos lazeres da vizinhança e amigos. QUE NOS DEVOLVAM A BUSCA DA CULTURA E DA IDENTIDADE; DO QUE SOMOS OU QUEREMOS SER NO FUTURO? Jose Carlos Beleza – abril/2011

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