hora certa

PODCAST

beleza2012


Textos de Jair Vieira

QUEM SOMOS
Feita a apresentação, vais começar a ler um depoimento com muitas críticas, sugestões e idéias. E, para que tudo isso tenha significado, nada mais natural que inclua nesse relato algumas experiências e vivências pessoais. Faço isso através de vários textos com títulos específicos.
Acredito muito na capacidade das pessoas de julgar o que é bom ou ruim, assim como sempre vou acreditar e provar, a todo momento, que luto para ser honesto. E ser honesto, nos dias de hoje, é muito difícil. A propósito, o que é honestidade?
Começo aqui o meu relato, a partir do título acima colocado: “Quem somos”. Famosos, todos nós sabemos que somos. Muito já foi divulgado e dito; já fomos o maior conjunto habitacional da América Latina (ainda ostentamos este título?). Pergunto: qual o presidente da mais bela, rica e pujante nação do mundo colocou os seu spés aqui na Restinga, para inaugurar a Segunda Unidade da Restinga Nova? Foi Ernesto Geisel ou Figueiredo? Eu não lembro, mas estava ali. A cinco metros de distância do presidente. Por essa, entre outras mil razões, sou radicalmente contra as inaugurações de obra spúblicas. Tu lembras do local onde ocorreu a solenidade de inauguração da Segunda Unidade? Disso eu não esqueci, porque ainda não fiquei cego.
Há vinte e cinco anos sabemos que somos um bairro-dormitório (antes éramos vila). Mas quem dorme em nossas quinze mil moradias? Uns (“eles”) dizem que somos oitenta mil. Outras fontes dizem que somos mais de cem mil habitantes. Quantos somos, unindo as raças negra, branca, polonesa, alemã...? Quem é imigrante de Alegrete, Bagé, Cachoeira do Sul, Pelotas, Pernambuco, Ceará...?
Quantos automóveis, telefones e parabólicas nós temos? Quantos têm curso superior? Quantos são os desempregados, deficientes físicos e mentais, bandidos, arrombadores? Daria para fazer um censo de quantos dentes cariados temos em nossas bocas! A Tinga já atingiu a sua maioridade, mas onde está sua identidade? Daqui já surgiu a geração Tinga, a qual não tem qualquer perspectiva de futuro e de realizações. Nossos filhos vão continuar dormindo no mesmo “bercinho”? A casa está ficando pequena demais!
Quantas vezes as escoala de samba da Tinga foram campeãs? Que papo é esse que diz que a Tinga é só samba? O Sidnei, um marceneiro de raça mestiça (negro e índio), recita, com grande talento, frases de um dos maiores filósofos do mundo. Tu conheces o Iosvaldino? Ele foi carteiro (e muitas cartas te entregou). Formou-se em Jornalismo, é professor e fez pós-graduação. Sua tese foi sobre aquela turma que se encontrava às sextas-feiras na esquina Democrática.
Bem, eu poderia falar de muitas pessoas da Tinga que conheço. Tive oportunidade de conhecer seus pensamentos, suas pequenas e grandes ações, seus talentos, elogios e críticas. Na verdade, só queria falar de uma pessoa que também simboliza a inspiração desse depoimento. É a pessoa mais sábia, sensível e carinhosa da Tinga: o Rui, conheces? É aquele negro sujo, às vezes morinbundo, às vezes com roupa limpa e bonita, mas que normalmente cheira mal e puxa por uma perna, arrastando-se lentamente pelas ruas. Há muitos anos, diariamente, ele passa aqui na papelaria e ganha suas balas de hortelã. Sempre pergunta pela “vovó” (minha mãe), pedindo-lhe a benção, ao que recebe a resposta: “Deus te abençoe!”
O Rui vai todos os dias ao centro, e no ônibus ninguém deve suportar o mau cheiro. Ele ama a liberdade; a Ronda Social para ele deve ser a polícia de choque. Uma vez, perguntei-lhe o que ia fazer todos os dias no centro; ele resmungou, balbuciou alguma coisa e fulminou com grande rebeldia: “Eu não gosto da Restinga, na Restinga só tem maloqueiro!”
Peço permissão ao Haroldo de Souza, o melhor narrador de futebol, para usar uma de suas expressões: “Respeitem e cuidem do Rui; ele é um cidadão da Restinga”. E vou repetir quatrocentas vezes: “Tinga, teu povo te ama!” Chegou o momento de fazermos o censo desse amor.


LEITE B
Na próxima eleição, fique atento: tem muito intelectual frustrado, que domina a gramática, mas não tem conteúdo. Escreve algumas nulidades e quer que seja um Best-seller.
A mesma coisa ocorre com alguns empresários falidos e endividados: todos querem mamar na teta político-partidária.

TCHAM, TCHAM
O Brasil precisa fazer barba, cabelo e bigode, pois existem barbas e bigodes que insistem em querer o poder vitalício e cabelos querendo voltar... A cada eleição, a mídia batiza o tipo de voto predominante que será dado aos políticos; no caso dos caras –sujas, na eleição de 1998, teremos dois tipos de votos: uns farão “tcham”, e outros farão “tcham, tcham”, e o Brasil ficará muito mais bonito.

MANIFESTO DE PROTESTO!

O seminário do Conselho de Segurança da Restinga - PRONASCI aconteceu em 02/04/11 no CPIJ com propostas elaboradas e aprovada no seu conjunto para ações de proteção de jovens de 16 a 24 anos em conflito com a justiça. De lá pra cá não tínhamos certeza de quando iniciariam os projetos e oficinas com sede no que foi denominado Território de Paz, compreendendo as áreas do outro lado da Avenida João Antonio da Silveira (Restinga Velha e adjacências). Na data de 19/07/11, na reunião do Fórum de Segurança, fomos comunicados pelos representantes da FASC/ Restinga que o programa do PROTEJO/ Restinga teria sua sede de atendimento implantado a partir de 15/08/11 em prédio nas proximidades do Nonoai TC. portanto fora do Território de Paz estabelecido pela Prefeitura de P. Alegre, segundo seus representantes na reunião. Em 09/08/11, fomos convidados para reunião com os técnicos da ADESC e Fasc/ Restinga, ficamos sabendo que o Programa do Protejo irá começar a partir de 18/08/11 em local a ser definido na Restinga onde aconteceria encontro com jovens selecionados para recepção e orientações para o referido programa e ainda atenderam também as demandas de atendimento do bairro Cruzeiro. Além disso, apresentaram dois oficineiros de dança da Restinga e não tinham selecionados os oficineiros de informática. Fiz a indicação de dois oficineiros moradores da Restinga para a seleção. E que com nova possibilidade de atendimento englobaria outras vilas fora da comunidade, que na divisão dos Territórios de Paz pelo não preenchimento total das vagas disponíveis (285) da comunidade.
Diante dos fatos apresentados, vale lembrar que se constatam uma vez mais a prática da ditadura militar – REMOVER PARA PROMOVER, onde os primeiros moradores da Restinga foram removidos (largados) para um verdadeiro campo de concentração chamado VIETCONG, conhecido na Restinga de alguns anos atrás, como CANTÃO. Dessa forma, o poder público relega para segundo plano a maneira correta (em nossa opinião) de agir em favor da plena cidadania, que o povo possa se reconhecer, assumir a sua identidade e as histórias tão grandiosas dessa comunidade. Mas como vemos, reforçam-se uma vez mais a exclusão da cidadania, do convívio da solução dos seus problemas e tarefas que também deveriam ser assumidas pelos seus concidadãos da comunidade, reforçando sua auto-estima.
E neste sentido, os representantes do governo municipal reafirmavam a todo encontro do Fórum de segurança da Restinga que o Território de Paz é o outro lado da Av. João Antonio da Silveira para implantação da sede atendimento e oficinas do PROTEJO. Aliás, no que diz respeito à sede do programa temos quatro escolas municipais e ao todo na comunidade da Restinga temos dezenove escolas que se negaram a ceder salas para o referido programa. “Um passarinho me contou”- A recusa se deu pelo motivo do perfil da clientela; jovens em conflito com a Lei.
Mas cabe salientar que discursos de antes onde certas criaturas insistiam que o Território da Paz deveria congregar todas as oficinas do programa Protejo, mas o discurso de outrora mudou, pois agora pode ser bem distante da comunidade. O que aparece com esta atitude da PMPA, quer centralizar o atendimento de outras regiões da cidade, sem levar em conta as necessidades de construir a cidadania responsável em compartilhar a sua história, identidade da comunidade e estar presente nas ações de reparação. Desta maneira ficam as perguntas: - O poder público continua achando que tais atitudes vão minorar a violência domestica e o engajamento do cidadão na busca de soluções? Ou será um fator puramente eleitoral?
Assim, esta prática vivenciada pela comunidade a mais de quarenta e quatro anos vem sendo apresentado paliativos inoperantes do poder público. Beleza

Assinam: